É fantástico constatar como o português, para quem gosta de escrever, pode produzir histórias únicas. Encontrei um pequeno texto, num caderno antigo da minha época de Colégio Pitágoras, e resolvi transformá-lo... O resultado é o que vou compartilhar com vocês agora: quase um capítulo de uma "novela linguística" que surgiu quando dei asas a minha imaginação...
"Era a segunda vez que o tal substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com uma flexão plural e com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas acompanhada de um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona até; ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação do destino: "os dois sozinhos, num lugar sem que ninguém visse e ouvisse nada"... Sem perder essa segunda oportunidade, começou ele a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu esse pequeno colóquio.
De repente, o elevador para. Só os dois lá dentro: "ótimo, pensou o substantivo mais uma vez, outro bom motivo para provocar algumas conotações". Estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a se movimentar. Só que em vez de descer, subiu e parou justamente no andar do substantivo. Ele usou de todo o seu predicado verbal e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam-se uma análise sintática para ele e uma dose de morfologia com gelo para ela. Ficaram conversando, encostados em vírgulas e vocativos, quando ele começou outra vez a se insinuar... Ela foi se permitindo e ele usando do seu adjunto adnominal, rapidamente chegaram a um imperativo! Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar mais e mais; ela tremendo de vocabulário !?, e ele sentindo seu ditongo crescente - se abraçaram, numa pontuação tão maiúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa coesão perfeita, quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo, sugerindo a ela uma ou outra interpretação, sempre soletrada entre aspas. É claro que ela se deixou levar por essas palavras destacadas, pois que já estava totalmente oxítona às vontades dele. Acabaram cedendo ao comum de dois gêneros... Não se sabia quem era voz passiva e quem era voz ativa... Entre beijos, carícias, parônimos e pronomes, ele se debruçando num gerúndio insistente: ficaram algum tempo sem perder o tempo verbal!
Estavam nas posições de primeira e segunda pessoas do singular, ela , agora, um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo a ênfase do seu travessão contra aquele hífen ainda singular. Neste exato momento, a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha acompanhado tudo - usou de todos os recursos morfológicos, sintáticos e semânticos - entrou esbravejando adjetivos aos dois, que se perderam gramaticalmente em meio a tantas interjeições. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar retirou seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam e viram que isso era melhor do que uma dissertação-expositiva por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu principal! Que locução verbal, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela significação enorme, com direito a todos os complementos. E a colocação pronominal estava proposta: comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, só caberia uma mesóclise-a-trois. O substantivo vendo que poderia ser substituido ou se transformar num pronome indefinido depois dessa catáfora, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar e seu principal, desfez a locução, jogou-os pela janela e voltou ao seu predicado inicial. Quis ser eternamente fiel à língua portuguesa: convidou, então, o artigo feminino para formar uma locução adjetiva ao seu lado, coroando-a com uma crase de fazer inveja à mais bela princesa ."
De repente, o elevador para. Só os dois lá dentro: "ótimo, pensou o substantivo mais uma vez, outro bom motivo para provocar algumas conotações". Estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a se movimentar. Só que em vez de descer, subiu e parou justamente no andar do substantivo. Ele usou de todo o seu predicado verbal e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam-se uma análise sintática para ele e uma dose de morfologia com gelo para ela. Ficaram conversando, encostados em vírgulas e vocativos, quando ele começou outra vez a se insinuar... Ela foi se permitindo e ele usando do seu adjunto adnominal, rapidamente chegaram a um imperativo! Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar mais e mais; ela tremendo de vocabulário !?, e ele sentindo seu ditongo crescente - se abraçaram, numa pontuação tão maiúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa coesão perfeita, quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo, sugerindo a ela uma ou outra interpretação, sempre soletrada entre aspas. É claro que ela se deixou levar por essas palavras destacadas, pois que já estava totalmente oxítona às vontades dele. Acabaram cedendo ao comum de dois gêneros... Não se sabia quem era voz passiva e quem era voz ativa... Entre beijos, carícias, parônimos e pronomes, ele se debruçando num gerúndio insistente: ficaram algum tempo sem perder o tempo verbal!
Estavam nas posições de primeira e segunda pessoas do singular, ela , agora, um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo a ênfase do seu travessão contra aquele hífen ainda singular. Neste exato momento, a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha acompanhado tudo - usou de todos os recursos morfológicos, sintáticos e semânticos - entrou esbravejando adjetivos aos dois, que se perderam gramaticalmente em meio a tantas interjeições. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar retirou seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam e viram que isso era melhor do que uma dissertação-expositiva por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu principal! Que locução verbal, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela significação enorme, com direito a todos os complementos. E a colocação pronominal estava proposta: comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, só caberia uma mesóclise-a-trois. O substantivo vendo que poderia ser substituido ou se transformar num pronome indefinido depois dessa catáfora, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar e seu principal, desfez a locução, jogou-os pela janela e voltou ao seu predicado inicial. Quis ser eternamente fiel à língua portuguesa: convidou, então, o artigo feminino para formar uma locução adjetiva ao seu lado, coroando-a com uma crase de fazer inveja à mais bela princesa ."
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