"Hoje é dia de rock, bebê!”, Christiane Torloni pode não ter ficado muito feliz com a repercussão de seu momento de descontração, mas certamente terá que lidar com a expressão por um bom tempo. Isso porque a frase, e mais especificamente ainda o termo “bebê”, usado por Tereza Cristina, personagem de Torloni na novela “Fina Estampa”, da Rede Globo, entrou para o hall dos bordões que caíram no gosto popular.
Aparentemente embriagada, o que foi prontamente negado por sua assessoria de imprensa, a atriz deu uma entrevista confusa ao canal Multishow, durante o Rock In Rio 2011, e cunhou a fatídica frase que teria, inclusive, derrubado um possível convite da Organização das Nações Unidas (ONU) para a atriz divulgar, em 2012, o evento Rio +20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
Alheia à polêmica, a estudante de publicidade Tâmara Salazar, 20, conta que o bordão foi incorporado à sua rotina. “Estava assistindo a entrevista ao vivo e achei muito engraçado. Hoje é impossível eu passar um fim de semana sem usar a frase. Pode ser para o dia do rock mesmo ou qualquer outra variação. Só o ‘bebê’ no final que é indispensável.”
O berço dos bordões
"Bebê" entra para o hall dos bordões que caíram no gosto popular.
Não existe explicação simples pra entender porque algumas frases viram bordões e outras não. E também não há apenas um meio de se criar novas expressões.
Não existe explicação simples pra entender porque algumas frases viram bordões e outras não. E também não há apenas um meio de se criar novas expressões.
“Não é uma Brastemp”, por exemplo, considerado case publicitário muito bem-sucedido, colocou a marca na boca do povo. “Se a frase for simples e direta e inserir um componente que traga uma emoção junto, uma coisa agradável e criativa, ela tem grandes chances de se tornar um bordão. Humor também ajuda bastante”, explica o diretor do Instituto de Neurolinguística Aplicada (INAp), Jairo Mancilha.
Apesar de alguns exemplos publicitários, as novelas continuam sendo o principal berço dos bordões. Uma frase que cai no gosto das pessoas populariza o personagem e o ator que o interpreta. Já faz 26 anos que a novela “Roque Santeiro” foi ao ar e o “Tô certo ou tô errado?” de Sinhozinho Malta, feito por Lima Duarte, ainda é lembrado.
A novela “O Clone” (2001), reprisada recentemente, é uma das campeãs na criação de bordões que as pessoas incorporaram ao seu dia a dia. Inspiradas na cultura árabe, as expressões “inshalá”, “arder no mármore do inferno” e “jogar ao vento” tomaram as ruas. E não foram só essas. Ainda teve “cada mergulho é um flash”, falada pela personagem de Mara Manzan, “bom te ver”, usada por Eri Johnson, e “não é brinquedo, não!”, dita por Dona Jura, interpretada pela atriz Solange Couto.
O carisma e a força do personagem de quem usa a frase é outro ponto que ajuda a criar um bordão. “Se os personagens não forem interessantes, engraçados, ou não despertarem a simpatia do público, ou se o ator não for dos melhores, o bordão não fará sucesso”, garante o linguista da Universidade de Brasília Marcos Bagno.
O carisma e a força do personagem de quem usa a frase é outro ponto que ajuda a criar um bordão. “Se os personagens não forem interessantes, engraçados, ou não despertarem a simpatia do público, ou se o ator não for dos melhores, o bordão não fará sucesso”, garante o linguista da Universidade de Brasília Marcos Bagno.
Em tempos de cultura de internet, nem sempre a fama é que leva ao bordão, mas muitas vezes é o bordão que leva à fama. Existe uma lista extensa de expressões que são muito conhecidas por quem é usuário da web. Apesar de a internet ajudar muito a difundir bordões com grande rapidez, eles são mais efêmeros do que os criados pelas novelas, que passam meses no ar. “Os bordões têm sua vida útil limitada pela vida útil de sua fonte. Ao contrário dos provérbios e ditados tradicionais, que se preservam graças à literatura e à memória coletiva e são passados de uma geração para outra, os bordões não têm uma mensagem, uma lição de vida a transmitir. São apenas frases de efeito que, normalmente, perdem sua força com o tempo”, explica Bagno.
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